1 de outubro de 2009

A Deontologia no DN

Um jornal (DN) recebe um documento que indicia claramente que outro jornal (Público) entrou num esquema de manipulação da opinião pública, urdido em alegada colaboração com o assessor de imprensa da Presidência da República, com a intenção óbvia de prejudicar gravemente a imagem do partido de governo.

Esse documento é um email que um jornalista do Público envia a um colega onde
  • Alega que recebeu a informação do assessor, que lhe garantiu falar em nome do Presidente,
  • Pede ao colega que investigue,
  • Pede ao colega para manipular os dados, de modo a parecer que a fonte seria um assessor do Presidente do Governo Regional da Madeira, camuflando assim a identidade da verdadeira fonte.
Esse email data de Abril de 2008.

Em resposta a esse email, o colega da Madeira responde que nada apurou que possa validar a veracidade dos factos. Ao contrário, o que apurou indicia a sua falsidade.

As questões deontológicas levantadas por alguns jornalistas e as minhas respostas:

A. Será lícito denunciar uma "fonte" de outro jornal?
Sim, quando há manifesto interesse público. Neste caso, tratava-se de confirmar que as suspeitas lançadas sobre o Governo vinham mesmo de alguém que falava em nome do Presidente.
Sim, quando se constata que a fonte tentou manipular o jornalista.
Neste caso, o correspondente do Público na Madeira chegou à conclusão de que tudo não passava de uma "paranóia" da Presidência.

B. Será lícito publicar correspondência privada trocada por dois jornalistas?
Sim, quando - como neste caso - se "apanha" o jornalista a fazer um frete a um assessor do Presidente e a pedir a um colega que manobre a informação para dar a sensação ao leitor de que a fonte seria do Governo Regional da Madeira.
Alegar, como tenho visto, que o DN cometeu um crime e uma traição é não perceber que é o jornalista do Público, bem como o próprio jornal, que merecem ser alvo de escrutínio público e, portanto, de notícia. Ou estarão os jornalistas acima dos mortais que são por eles escrutinados todos os dias? Ou podem os jornalistas "conspirar" impunemente para criar realidades virtuais com o objectivo de abater partidos?


C. Deveria o DN: 
  1.  ter ignorado o email?
  2. ter investigado o caso mais a fundo antes de publicar notícia?
1. Ter ignorado o email seria, objectivamente, permitir que a farsa das escutas continuasse, com prejuízo do PS e a benefício do PSD e da sua campanha da "asfixia democrática".
2. Basta ler as explicações dadas ao Provedor do Leitor do DN pelo director do jornal para se perceber que bastante trabalho se tentou fazer, antes da publicação do email. Adiar seria não dar a conhecer em tempo "útil" (antes das eleições) a maquinação, beneficiando o infractor.
Andou muito bem o DN.

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